A popularização da Constelação Familiar
- Ana Paula Klein
- 28 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de fev. de 2020

A Constelação Familiar Sistêmica chegou ao Brasil há mais ou menos duas décadas difundida no mundo por Bert Hellinger, teólogo, filósofo e terapeuta alemão que utilizou como fundamentações teóricas/práticas para o desenvolvimento desse trabalho o psicodrama de Jacob Moreno, escultura familiar de Virginia Satir, lealdades invisíveis de Ivan Boszormenyi-Nagy, entre outras (Franke-Bryson, 2013).
Com auxílio de outros consteladores, Jakob Schneider, Sieglinde Schneider, Gunthard Weber, Mimansa Farny, Marianne Franke-Gricksch, Peter e Tsuyuko Spelter, Jam Jacob Stam, Cristine Essen iniciou-se formações no Brasil (IDESV, 2017) compostas por módulos de três ou quatro dias, espaçados em meses, com duração média de dois anos, por acreditar-se que a Constelação Familiar não é apenas uma técnica, mas uma visão de mundo, uma postura filosófica em relação a vida e aos relacionamentos.
Por proporcionar uma visão ampliada em que todos fazemos parte de sistemas de relações em que estamos entrelaçados a padrões de crenças e comportamentos, a abordagem sistêmica convida à uma mudança interna profunda. Tal transformação leva um tempo para ser processada e digerida, e portanto é necessário que as formações em Constelação Familiar promovam, além de uma compreensão racional das leis sistêmicas e seus conceitos, também provoquem mudanças internas, emocionais, no modo como nos colocamos diante da vida.
A profundidade que a Constelação Familiar alcança demanda que o facilitador das Constelações se permita, primeiro, vivenciar suas questões internas ampliando seu olhar para o seu próprio sistema. Penso que para se tornar um Constelador é interessante fazer um mergulho nas suas próprias dores, identificar se há excluídos em seu sistema familiar de origem, abrir espaço para incluí-los, reconhecer rejeições e identificações, honrar seus pais, aceitar situações e destinos de ancestrais, se libertar de pesos que carregamos sem consciência...(entre outras questões...) em um processo intenso de transformação, que em geral, não é rápido e exige um bom tempo para ser processado. Dessa forma, o futuro Constelador pode abrir espaço interno para olhar, sem julgamento e com muita aceitação, para outros sistemas.
Tendo em vista a delicadeza desse trabalho, formações de curta duração, com poucas horas de treinamento, podem trazer uma compreensão superficial ou parcial de uma abordagem tão ampla e complexa. Isto posto, surge a reflexão: uma formação de uma semana intensiva ou com módulos somente à distância seria suficiente para formar um facilitador de Constelação Familiar?
Com a maior divulgação das Constelações Familiares nos últimos anos, em especial, após o programa no Fantástico sobre as Constelações no judiciário (G1, 2017), tem havido uma explosão de interessados tanto em fazer uma constelação, ser cliente, como aumentou consideravelmente o número de pessoas buscando formação. Muitos cursos estão sendo oferecidos, com diferentes formatos e sem uma bibliografia ou metodologia comum. Por não ser um trabalho regulamentado como profissão no Brasil, qualquer pessoa pode fazer a formação e se tornar um facilitador. De um lado, é muito rico que um número maior de pessoas possa se beneficiar dos resultados desse trabalho, mas há também questões delicadas que merecem atenção.
Tem sido comum o relato de Consteladores que trabalham com vidas passadas, terapias multidimensionais, quânticas, entre outros diversos nomes... Entendo que não há problema na junção de técnicas, contanto que seja dito ao cliente. Seria cuidadoso os terapeutas compartilharem que trabalham com as Constelações Familiares e mais "tal" técnica para que não haja dúvidas sobre qual o campo de atuação e de que lugar o terapeuta está partindo para conduzir seu trabalho.
O pensamento sistêmico nos faz perceber que nossas ações atingem um coletivo, e quando um Constelador age de forma não profissional, ou irresponsável, a partir de valores e crenças pessoais com mistura de outras técnicas, ele atinge não só a pessoa e família assistida, bem como os Consteladores como um todo, pois contribui para uma compreensão parcial, e às vezes distorcida sobre a técnica, a qual pode ser desqualificada ou desacreditada por aqueles que não dialogam com determinados sistemas de crenças, dificultando desse modo, a compreensão sobre o que é a Constelação Familiar e a que ela se propõe.
Fica o convite para um compromisso ético e uma corresponsabilização daqueles que almejam ser Consteladores com um investimento profundo em seu próprio processo terapêutico e de formação e, àqueles que querem ser constelados, um maior cuidado na escolha do profissional, se possível verifique sua trajetória, anos de formação e linha de atuação, para que, possamos juntos, manter a qualidade dessa incrível ferramenta de transformação.
Referências:
Franke-Bryson, 2013. O rio nunca olha para trás. São Paulo: Editora Conexão Sistêmica.
G1, 2017. Juízes usam técnica da Constelação para resolver conflitos nos tribunais. Reportagem Fantástico, Edição do dia 14/05/2017. Disponível em: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2017/05/juizes-usam-tecnica-da-constelacao-para-resolver-conflitos-nos-tribunais.html. Acessado em: 22.01.2018
IDESV, 2017. Instituto Desenvolvimento sistêmico para a vida. Disponível em: http://constelacaodeciowilma.com.br/index.php/quem-somos. Acessado em 23 de nov 2017.